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OS DESAFIOS DO ENSINO À DISTÂNCIA

A Pandemia do Covid-19 veio efetivamente alterar os nossos hábitos e rotinas. Em pleno estado de confinamento várias áreas da nossa sociedade não podem simplesmente ficar estagnadas, sendo por isso necessário adotar medidas adaptativas. É o caso do ensino, que no dia 20 de abril viu regressar a Portugal a telescola pelo canal da RTP. O ensino à distância é a resposta que o país encontrou para terminar o presente ano letivo. O que é que isto implica realmente?

É ingénuo pensarmos que o modelo de ensino à distância tem uma linha condutora concreta e que todos os alunos estão em pé de igualdade para desenvolver as aprendizagens desejadas. Pelo contrário, embora se apresente como uma mais mais-valia, na impossibilidade de aulas presenciais, este tipo de ensino coloca em causa os princípios de igualdade, equidade e inclusão. Os professores não têm todos as mesmas ferramentas para poder trabalhar, nem tão pouco os alunos, provenientes de diferentes estratos sociais. O ensino à distância traz na bagagem um conjunto de grandes desafios, que só poderão ser amenizados com a capacidade de comunicação e adaptação dos docentes, que também se encontram numa situação de possível vulnerabilidade, devido à faixa etária elevada dos profissionais, ausência de formação específica e toda a novidade do atual conceito. No entanto, eles não estão sozinhos, alunos e pais também serão decisivos para que as aprendizagens possam ser asseguradas.

O desafio deste tipo de ensino inicia-se desde logo por se perceber que métodos serão utilizados para a comunicação. Nem todos os alunos dispõe de computador com internet em casa e em determinadas existe somente um computador para mais de um aluno utilizar. Portugal é um dos países da Europa onde menos residências têm acesso à internet, sendo que a maioria dos inquiridos (70% aprox.) identifica a falta de competências para utilizar como o principal motivo de inacesso (segundo os último dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico - OCDE). O domínio dos softwares informáticos assume-se assim como um grande desafio para todos. Portugal é o sexto país da Europa onde as pessoas menos acedem à internet (segundo dados da OCDE, 2017). As aulas de informática foram extintas dos planos letivos e reconhece-se de forma unânime que existem diferenças geracionais no uso das tecnologias. Num país cujo corpo docente está claramente envelhecido, com cerca de 40% dos professores do quadro perto da idade da reforma, suspeita-se que a adaptação do ensino tradicional para as ferramentas tecnológicas do ensino à distância, não seja uma tarefa simples nem rápida.

A motivação dos alunos também é um fator a considerar. Muitos poderão desenvolver quadros de ansiedade por sentirem que estão a ser prejudicados e/ou não estarem a conseguir assimilar corretamente a matéria. Enquanto outros poderão aproveitar este método para se descomprometer das aprendizagens, desfocando-se e não cumprindo com o exigido. Embora este cenário advenha diretamente do anterior contexto escolar, o ensino à distância pode reforçar o comportamento e a ausência de recursos imediatos para alterar o padrão comportamental pode intensificá-lo. A motivação em alunos com necessidades educativas especiais também pode ser abalada. A ausência de um acompanhamento contínuo, adequado e personalizado pode fazer regredir este aluno em termos de aprendizagens. É por isso um desafio para os seus pais e corpo docente encontrar ferramentas para que isso não ocorra.

Será passível um professor com uma turma de 25 alunos lecionar aulas na plataforma zoom, somente para metade da turma? Como se irá gerir o princípio de igualdade? O estrato social não pode influenciar a forma como a informação chega ao aluno. Reconhece-se que famílias de um estrato social superior, ou cujos pais sejam eles mesmo professores, estejam, por recursos próprios, mais favorecidos que os demais. No entanto, não é aceitável que a ferramenta de ensino proposta pelo estado e executada pelo docente, enquanto resposta pública, estabeleça diferenças de aprendizagem baseados no estrato social. No entanto, estamos em risco que isso possa acontecer, aumentando naturalmente a desigualdade.

O nosso ensino tem evoluído, e bem, para uma diversidade curricular, onde identificamos que nem todos os alunos aprendem da mesma forma, encontrando-se estratégias para que exista uma flexibilidade que permita uma evolução qualitativa do mesmo. Hoje, com o ensino à distância não podemos regredir e imaginar que todo o processo vem em “tamanho único”, tornando-o uniforme e rígido. Seja pelas necessidades educativas ou sociais.

Para vencer estes desafios é importante que se privilegie a boa comunicação e a boa adaptação às circunstâncias específicas. É importante que ninguém fique para trás e que as necessidades individuais sejam atendidas. É importante acima de tudo privilegiar a saúde mental de todos os intervenientes! Isso faz-se com um compromisso entre todos, sabendo que é permitido errar, que não devemos julgar ou pressionar os envolvidos e que devemos comunicar sempre de uma forma clara!

Estamos disponíveis para qualquer ajuda ou esclarecimento adicionar!

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PROFISSIONAIS

Dr. Miguel Aleixo

Psicólogo Clínico e da Saúde

Dra. Leandra Rabaça

Psicóloga Clínica e da Saúde

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