Pessoas com perturbação mental na Pandemia
- Dra. Leandra Rabaça
- 10 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Durante a pandemia temos direcionado toda a nossa atenção e preocupação para os pacientes infetados, para os responsáveis a atuar na linha da frente e para os possíveis danos causados pela quarentena na população em geral. No entanto, existem várias minorias éticas e problemas mentais específicos que merecem igualmente uma atenção especial.
Hoje, falamos sobre os efeitos da pandemia em pessoas com perturbação mental. É fundamental perceber-se o impacto diferencial da pandemia nestas pessoas.
Em primeiro lugar, sendo este um grupo social mais vulnerável da nossa sociedade merecem a nossa mais dedicada atenção e disponibilidade. Em segundo, a ignorância relativamente a este impacto pode impedir e/ou prejudicar o controlo da disseminação do “Covid-19”.
O estigma em relação a estas patologias ainda prevalece na nossa sociedade.
Em épocas de pandemia temos que ter consciência do impacto que isso pode causar. Pessoas com perturbação mental são geralmente mais suscetíveis a infeções, nomeadamente a pneumonias. Invariavelmente podem ser expostas a mais barreiras no acesso à saúde. É bastante comum a participação destas pessoas em consultas ambulatórias para avaliações e prescrições. No entanto, as regulamentações e a quarentena tornam todo o processo e regularidade mais difícil e por vezes até impraticável. Num relatório divulgado pela China newsweek a 9 de fevereiro de 2020, onde se analisou e discutiu um conjunto de 50 casos de “COVID-19” em pacientes internados num hospital psiquiátrico de Wuhan, China, identificou-se preocupações sobre o papel das perturbações mentais na transmissão do coronavírus. Das possíveis explicações exalta-se (1) comprometimento cognitivo; (2) pouca consciência dos fatores de risco; (3) Negligência relativamente à proteção pessoal; (4) confinamento em enfermarias psiquiátricas.
Pessoas com perturbação mental tornam os mecanismos de prevenção e os tratamentos mais desafiadores e consequentemente menos eficazes, provenientes das dificuldades de perceção do problema. Paralelamente esta pandemia tem desencadeado um grande estado de medo, ansiedade e depressão. Estas pessoas são geralmente mais suscetíveis a ser influenciadas por respostas emocionais, podendo originar recaídas ou agravamento de uma condição de saúde mental já existente, devido à alta suscetibilidade ao stress, em comparação com a população em geral (Sartorius, 2013).
Até então, foram escassas as vozes desta população que se fizeram ouvir durante a pandemia. Embora se fale de uma forma global, temos de ter consciência que estes estados de emergência nunca afetam todos os grupos sociais da mesma forma. As desigualdades sociais pré-existentes ficam ainda mais expostas e vulneráveis, podendo propiciar a disseminação de infeções e propagação do vírus. Além das pessoas com perturbação do foro mental, também podemos considerar os refugiados, os sem-abrigo e outras minorias étnicas e sociais como parte integrante deste quadro.
Nesta pandemia temos de nos lembrar de todos porque todos somos importantes!
Disponíveis para qualquer esclarecimento ou ajuda adicional.
Referências bibliográficas
China Newsweek. Collective infections of coronavirus among 50 patients and 30 health workers in one psychiatric hospital in Wuhan. Shanghai Obs. 2020. https://www.jfdaily.com/ news/detail?id=208584 (accessed Feb 17, 2020; in Chinese).
Sartorius N. Comorbidity of mental and physical diseases: a main challenge for medicine of the 21st century. Shanghai Arch Psychiatry 2013;

Comments